terça-feira, 29 de abril de 2008

Aida, uma vitoriosa sem medalha

O blog O mundo em Pequim continua sua série de histórias olímpicas contando agora a tragetória de uma das maiores atletas que nosso país já teve, Aida dos Santos.

O salto em altura feminino dos Jogos Olímpicos de 1964 teve a medalha de ouro para a romena Iolanda Balas, com 1m90, 10cm mais alta que a marca obtida pela australiana Mason Brown, que foi prata. O bronze foi para a soviética Taisiya Chenchik, que saltou 1m78.
Porém, para nós brasileiros, ou até para o mundo, o que mais importou nessa prova foi o quarto lugar de Aida dos Santos. A heroina brasileira era a única mulher na delegação de 81 homens do Brasil e tinha saltado apenas 1m53 no pan de São Paulo no ano interior, ficando apenas na quinta posição.
Diante de quase 70.000 pessoas no Estádio Olímpico de Tóquio, Aida era a única negra no grupo de 11 saltadoras finalistas da competição(ao todo foram 27 atletas). Mauricio Cardoso em seu livro “Os arquivos das Olímpiadas” descreve bem a final daquele dia 15 de outubro”Depois de alguns saltos, a barra é colocada a 1m70 do chão. Aida se prepara, corre e salta. Passa, Aida chora. Chora de novo depois de superar a barra a 1m72.E outra vez quando salta 1m74. Chora igual, nem mais alegre, nem mais triste, quando falha na terceira e última tentativa no 1m76.”
A quarta colocação da brasileira foi a melhor de todos os tempos de uma atleta individual, a até aquele momento era a melhor posição de quanquer mulher brasileira em qualquer prova olímpica.
Não tinha amigas, não tinha técnico, nem massagista, nem nada. Era sempre única. Para treinar ou competir no Japão Aida estava sempre só. Não recebera nenhuma uniforme oficial. Em dia de competição, usava um antigo, sobrevivente do último torneio sul-americano. Um fato curioso foi que a Adidas, ao descobrir das sapatilhas da atleta, deu uma de graça, mas para corridas de velocidade e não para saltos.
Durante a sessão de saltos, torceu o pé. Como não tinha médico, foi ajudada pelo médico da delegação cubana após o corredor dos 100m do país, Enrique Figueroa(que ficou em segundo na sua prova) vê-la no chão e chamar seu médico.

Sua presença na delegação brasileira era quase uma contravenção nos olhos dos oficiais. “Parece que não queriam me levar porque eu sou preta”- diz Aida a respeito dos Jogos de 64.

Hoje, Aida tem um reconhecimento grande, mas menor do que ela merece. Em 2006, ganhou uma homenagem do Comitê Olímpico Brasileiro. No ano seguinte, passou seu prêmio adiante, para André Richer, outro ex-atleta que continua se dedicando ao esporte.

E as coisas boas de Aida não param por aí. Além de sua filha, Waleska, ter feito parte da seleção de volei feminino bronze em Sydney 2000, ela dirige o instituto Aida dos Santos, uma entidade sem fins lucrativos que tem como principal objetivo proporcionar à crianças e adolescentes de baixa renda, entre 7 e 16 anos, condições de inclusão social por meio do esporte, através de duas modalidades: atletismo e voleibol.

Aida, uma heroína brasileira que dedicou toda sua vida ao esporte!

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