sexta-feira, 11 de abril de 2008

Duas visões de uma campeã

Começando as postagens de histórias olímpica, hoje veremos a história de uma alemã oriental na década de 1970 que assumiu que usava dopping quando o muro de Berlim caiu.
O nome Kornelia Ender tem duas visões antagônicas dentre os historiadores olímpicos. A primeira visão é a que a alemã oriental se dopou para conquistar suas oito medalhas olímpicas enquanto a segunda a coloca como a principal nadadora da história mundial.Nos dias de hoje, não é segredo para ninguém o sistema de dopagem das atletas alemãs-orientais nas décadas de 70/80, que culminou com uma avassaladora supremacia da nação na natação feminina mundial. As suspeitas se iniciaram em 1976, quando as nadadoras do país, que não tinham conquistado nenhuma medalha de ouro nas Olimpíadas de 1972, venceram nada menos que 11 das 13 provas disputadas nos Jogos de Montreal.
Os americanos, principalmente, acusaram as nadadoras de serem muito musculosas e masculinizadas. Quando caiu a cortina de ferro, em 1989, detalhes do esquema de doping foram revelados - incluíam injeções e pílulas de origem desconhecida para as nadadoras e contratos forçando as atletas a não ter nenhum contato com os “capitalistas estrangeiros do Ocidente”. Nadadoras tiveram que se submeter a uma série de cirurgias para reparar os danos que as drogas haviam feito ao seus corpos e processaram médicos e treinadoresÉ claro que o país tem seus méritos no desenvolvimento dos estudos do corpo, já que estava menos interessado no tema bélico, que atormentava a cabeça de americanos e soviético na época da guerra fria. O desenvolvimento de estudos como o acúmulo de ácido lático nos treinamentos se deve muito aos alemães.

Claro que essa obsessão para formar grandes atletas chegou ao extremo e culminou no maior escândalo da história da natação.Uma das nadadoras mais bem sucedidas da época foi Kornelia Ender. Em 1976, ela se tornou a primeira mulher a conquistar quatro medalhas de ouro em uma Olimpíada. Treze anos depois, ela foi uma das que declarou que recebia pílulas e injeções.
Outra visão a vê como heroina. Ender conquistou nada menos do que oito medalhas olímpicas - nas Olimpíadas de Munique e Montreal. Como uma verdadeira menina prodígio, conquistou sua primeira medalha olímpica aos 13 anos.

Mas o feito de Kornelia Ender representou muito mais para a história da natação. Foi a primeira mulher a conquistar quatro medalhas de ouro em uma mesma Olimpíada. Talvez, o mundo tivesse sido privado de testemunhar esse feito. Com um problema congênito no quadril, Ender deu início à carreira. A aplicação da aluna foi espantosa. Com a disciplina necessária e o talento natural experimentado apenas pelos campeões, Ender surgiu ao mundo na Olimpíada de 1974. Com apenas 13 anos, ela não decepcionou. Ajudou seu país a conquistar duas pratas por equipe e ainda conquistou sua medalha individual, também de prata nos 200m medley.Em Montreal, quatro anos mais velha, conquistaria o mundo ao trazer de volta para a Alemanha Oriental quatro medalhas de ouro.

Ender arrebatou as medalhas de ouro nos 100 e 200m livre, além dos 100 borboleta e do revezamento 4×100m medley, além de uma prata no revezamento 4×100m livres.Kornelia estabeleu 29 recordes mundiais e oito títulos mundiais em três anos. Nos 100m livre, baixou o tempo 10 vezes.
Obviamente, na obscuriedade do regime da Alemanha Oriental nada pôde ser provado na época mas era a busca da supremacia olímpica por parte dos países da cortina de ferro. Embora as outras 13 nadadoras alemãs que arrebataram medalhas não tivessem assumido o uso do doping, fica difícil acreditar que Kornélia fosse a única compatriota na qual a “bem sucedida” trapaça teria sido aplicada.Nunca se saberá até onde ia o talento de Kornelia e onde começava a fraude da indústria do dopping da Alemanha Oriental.

Nenhum comentário: